Novamente Spider Man traz reflexões muito interessantes do ponto de vista de comportamento humano. Enquanto o primeiro filme trouxe a descoberta das forças que o diferenciam e o segundo reforçou sua missão de vida, sempre gerando identificação com o lado humano do herói, o mais recente sucesso de bilheteria apresenta desafios importantes a superar, como a busca de soluções para a revelação da sua identidade secreta e o luto, por exemplo.
“Sem volta para casa” é um título que representa bem a dor vivida pelo super herói. Afinal, quando está em crise, o que lhe traz mais alívio do que a esperança de sentir de novo o aconchego do lar? E como você reage quando pensa que a vida desconstruiu a sua zona de conforto, inaugurando um caminho desconhecido e assustador?
A eterna busca do autoconhecimento
Recuperar o segredo da identidade original, o mote principal do protagonista, pode ter vários significados quando traduzidos à vida comum, entre eles: reforçar a identidade pessoal e a autonomia; assumir a responsabilidade por resolver as questões da sua vida; trabalhar com eficácia profissional e garantir as necessidades de descanso e de reposição de energia; manter-se dedicado a uma luta sobre-humana, mas saber que em algum momento gozará do prazer de ser um homem comum, simples, que sente as dores da fragilidade humana, ama, chora e ri; blindar-se ou elaborar formas de sobreviver a críticas ou julgamentos excessivos, a fim de manter sua sanidade, recuperar a paz e a capacidade de trabalho; deixar em segurança e conforto as pessoas que ama; suportar a dor do crescimento para melhor corresponder aos seus valores e objetivos; escolher um caminho a seguir, renunciando ao “não escolhido”.
Bem, tendo um problema a resolver, o Homem Aranha vai à busca de soluções, como você faria, não é?
Inteligência Emocional: buscando soluções para a crise
Diante das ameaças que encontra, o Homem Aranha conclui que é hora (sempre é) de ir à luta por si mesmo. E ele não paralisa. Ele age. Afinal, antes de ser efetivo em ajudar a todos é essencial fazer o dever de casa de estar bem consigo: o autocuidado, a autoestima, a identidade, a clareza sobre os valores que o norteiam e o uso consciente das suas forças e habilidades, a busca por soluções e a luta persistente contra os obstáculos.
O trailer traz o alerta de outro personagem ao protagonista: “você está tentando viver duas vidas diferentes. E quanto mais tentar viver assim, mais perigoso ficará.” A falta de objetivos ou de foco na execução das estratégias a respeito dele causa desregulação emocional, dificultando a sua produtividade e os seus relacionamentos, pelas variações de humor.
Por outro lado, buscar ajuda reflete a capacidade de sensibilizar as pessoas em prol dos seus objetivos. Esse é um dos aspectos da Inteligência Emocional. Em meio ao caos é preciso “sair da cabeça e ir para as mãos”, renunciar a tanto pensar, “sair do seu mundinho” e agir em defesa própria. Você faz assim?
Como lidar com o erro e com o fracasso
E quem disse que Super Herói tem vida fácil? Que tal se espelhar nas superações e no uso eficiente das suas forças para romper suas dificuldades? Suas primeiras tentativas de resolver o problema foram frustradas. A tentativa de solução complexa e perfeita foi determinante para o fracasso. Com você às vezes é assim também?
E quando acontece, seus pensamentos são de desistir ou de buscar novas alternativas? E que tal aproveitar as lições do que não deu certo, fazer do erro o combustível do aprendizado? Com quantos fracassos você faz um sucesso?
A vivência do luto
Em meio a uma jornada eletrizante, a arte, imitando a vida, impõe o luto. Quem disse que você não é exigido como super-herói, mesmo sendo um belo ser humano? E se agora já não há mais como receber o carinho esperado, em plena crise?
Se a vida é feita também de perdas, quanto você perdeu de si e das pessoas amadas até aqui? Enlutar-se é passar a fazer a despedida, aquela lembrança que a princípio ainda deve ser melhor processada para depois passar a doer menos.
Em meio ao luto, da dor de perder alguém que você ama, de oscilar entre as tradicionais fases de negar, entristecer, deprimir, barganhar e aceitar, por fim talvez ressignificar, a vida exige seguir em frente.
É claro que cada um tem seu processo, mas, como é importante criar condições para viver intensamente esse momento!! As emoções precisam ser vividas, todas elas. Monitore quais tem sentido, com qual intensidade e como tem reagido a elas.
Identifique também quais imagens mentais e pensamentos tem aparecido. Perceba quais gatilhos de situações e locais geram mais ansiedade e, então, crie estratégias de convivência ou de enfrentamento gradual para reduzir a sua dor.
Mantenha suas atividades e relacionamentos. Não se inative, nem se isole.
Lembre-se de outros momentos difíceis que você superou: quais estratégias, forças e habilidades utilizou. Liste as lembranças boas e as lições aprendidas com o ser amado que partiu.
Capriche muito na higiene do sono, para garantir a reposição de energia. Inclua na sua rotina o relaxamento muscular e a respiração diafragmática, que ajudarão em momentos de crises.
Como você reage aos agentes estressores
Antes de enfrentar o problema, talvez você os veja grandes demais. É comum que o pensamento esteja distorcido num primeiro momento. Mas é necessário logo a seguir a sua intervenção consciente para redimensionar, diagnosticar novamente, deixá-lo dentro da realidade. Assim você ajusta melhor as emoções e as ações a respeito.
Depois, revisite as suas forças, e são muitas. Escolha quais vai usar nesse caso. Com quais armas você vai para a guerra?
Estando em crise, relembre os valores que você estabeleceu para a sua vida. Estão em você, são seus nortes.
Reveja também seus objetivos, realinhe as suas estratégias, planeje os modos de enfretamento e, por fim, vá à luta, é hora de agir com disciplina para reconquistar a estabilidade.
Psicólogo Pascoal Zani
CRP 08/004471
Publicação original do psicólogo Pascoal Zani no site do Clube Gazeta do Povo: