As cinco emoções universais: como você reage a elas
O músico Danilo Caymmi foi muito feliz ao descrever alma humana em na obra “O Bem e o Mal”. Sua composição expressa a essência das emoções, cada uma delas com seus papéis, suas dores e belezas: “guardo em mim o deus, o louco, o santo, o bem e o mal”.
Todas as suas vivências tem tons emocionais. Mesmo sendo algo tão essencial, a autoconsciência sobre as emoções é algo ser buscado. Que tal falar um pouco sobre elas?
Primeiro as emoções, depois os sentimentos
“As emoções ocorrem no teatro do corpo. Os sentimentos ocorrem no teatro da mente”. (António Damásio)
As emoções são reações fisiológicas do seu corpo quando analisa uma situação. Estão na sua voz, na postura, no rosto, nas ações. São rápidas, curtas e intensas. Charles Darwin ressaltou suas funções de comunicação e de sobrevivência, além de ter comprovado que algumas são universais.
Os sentimentos são diferentes: derivam da sua interpretação e de como lida com as emoções. Duram mais tempo que elas, são nutridos por pensamentos que mantém o sofrimento ou o bem-estar.
Hoje em dia é comum na Psicologia encontrar a classificação de cinco “emoções primárias”. Para ajudar nas reflexões, a seguir você lerá um pouco da função, das reações (sentimentos) saudáveis, exageradas ou reprimidas de cada uma: alegria, medo, nojo, raiva e tristeza.
A raiva que a raiva dá
A raiva nasce quando você entende que está sendo agredido, injustiçado, difamado, vítima de violência, desrespeitado em seus limites.
Cumprindo a função de proteger, ela prepara seu corpo para se indignar e reestabelecer a justiça. O rubor na face, o coração acelerado e a vontade de agir dão energia para enfrentar o desafio da situação. Algumas vezes é possível canalizar essa força para outras atividades ou para vencer seus medos. A raiva o leva a se posicionar, a impor limite aos outros assertivamente, fazendo valer sua autoestima, sua identidade e sua autonomia.
Já teve um “ataque de raiva”? Ou vive irritado? Se você “deixa crescer” a ira, é muito fácil “perder a razão”, agir com agressividade contra as pessoas com quem convive.
No extremo oposto, se não demonstra a sua indignação dentro do contexto em que ela acontece, a mensagem que comunica é a de que concorda com a injustiça que sofreu. Se não usa a função dessa emoção para “dizer não”, para se impor como “uma pessoa que se dá ao respeito”, é possível que se deixe dominar nos relacionamentos, pois você mesmo se invalida.
E esse medo de ter medo
Não é incrível ter uma emoção cujo principal objetivo é preservar a sua vida, perceber o perigo, fugir ou se defender dele? O medo, “no ponto certo”, é essencial à sobrevivência. No dia-a-dia você pode utilizá-lo para analisar riscos de quaisquer natureza. O melhor critério para entender se está agindo de modo saudável é se perguntar: “há uma ameaça real? Se existe, minha reação está proporcional a ela?”
Mas, e se exagerar na dose de insegurança, nervosismo, ciúmes, ansiedade? Se o seu padrão de reação emocional for de nutrir e aumentar medos infundados, exagerados ou sobre assuntos que não são de seu controle para resolver, estará mantendo armadilhas que o paralisam (ansiedade, fobias, preocupações) e o impedem de viver novas experiências.
E quando sua reação ao medo é reprimi-lo, heim?! Se ignorá-lo, talvez queira enfrentar animais perigosos ou se aventurar em locais com alto risco de vida sem proteção alguma. É possível também que tome atitudes inconsequentes, seja no trabalho, na escola ou nos seus relacionamentos.
Ai, que nojo
O nojo (repugnância, repulsa, náusea, arrogância, antipatia, aversão) é essencial para você se manter limpo, evitar contaminações e rejeitar o convívio com pessoas que são tóxicas por descumprir regras essenciais de saúde (física ou mental) ou sociais.
No excesso a sua forma de reagir ao nojo o leva à rigorosidade nos hábitos de saúde e higiene, a exemplo do Transtorno Obsessivo-compulsivo. Socialmente, caso escolha evitar pessoas que considera perigosas à sua sobrevivência ou à sua sanidade, com justificativas pouco reais, é possível que sua reação aversiva o leve para a antipatia e o isolamento, caminhos naturais para a depressão.
Ao contrário, se reprimir, ficará mais vulnerável a contágios de doenças e mais relapso na higiene pessoal, fazendo com que as pessoas o excluam do convívio social. Ou ainda é possível que se mantenha ao lado de quem representa um perigo à sua integridade física ou saúde mental.
Alegria, alegria
Uma das funções da alegria é de aproveitar os momentos de bem-estar. Outra é a de reforçar os seus vínculos sociais e familiares. O entusiasmo está dentre suas atribuições também, pois ela dá a “energia para agir”, como diria o filósofo Baruch Espinoza.
Diz o ditado que “tudo que é demais faz mal”. Até a alegria, heim?! Buscar a felicidade de modo frenético, como se só pudesse ter momentos alegres, nunca sofrer e reprimir o que for desagradável: eis uma boa fórmula para a infelicidade!
E o que é “de menos” geralmente também é disfuncional. Se não valoriza um momento agradável ou se o seu negativismo o leva a colocar uma “vírgula” e um “mas” após cada pensamento positivo e realista, é bem possível que tenha se habituado a reprimir a alegria.
Que tristeza
A tristeza reduz as energias e a capacidade de agir para inaugurar um estado de reflexão. O “toque de recolher” pode vir de uma notícia de fato ruim ou de um pensamento negativo, às vezes infundado.
Em momentos reflexivos você reelabora suas frustrações, reforça a resiliência, processa as lições das experiências passadas, flexibiliza crenças e pensamentos, recupera o contato com os seus valores, ressignifica e redireciona a sua vida. Importante, não é?
A Terapia Cognitivo-comportamental classifica como “pensamento catastrófico” aquele em que você imagina o pior desfecho para uma situação real ou imaginária. Dominado por medo e tristeza, se sente impotente, se convence de que não tem forças para enfrentar seus desafios. Esse e outros jeitos de pensar exagerados e distorcidos originam, mantém e agravam ansiedade e depressão, por exemplo.
Um das formas de reagir à tristeza com repressão tem sido alertado na psicologia com o termo “positividade tóxica”. É a tentativa de colocar pensamentos positivos prontos para aliviar algum sofrimento, invalidando as emoções “desagradáveis”, deixando de experimentar a dor ou a decepção que elas propõem. Como consequência, talvez você perca a capacidade de refletir e também a empatia com os sentimentos negativos dos seus amados. É possível que passe a ser superficial, raso, incapaz de ver sentido no que faz e no que quer.
Posso ou não controlar as emoções?
“Você é como um capitão navegando em um barco. Ele deve dar as ordens certas, e da mesma forma você deve dar as ordens certas (pensamentos e imagens mentais) para a sua mente subconsciente que controla e governa todas as suas experiências.“ (Joseph Murphy)
As emoções virão. São fisiológicas, incontroláveis. Apesar disso, você tem papéis importantíssimos, alto lá! Como protagonista da sua vida, deve escolher entre se resignar, vivendo aos sabores delas; ou “varrê-las para baixo do tapete” a todo custo; ou fazer os caminhos da autoconsciência – parte da Inteligência Emocional – para manter sua sanidade, saúde física e qualidade de vida.
Acredite: ao contrário do que muitos pensamentos seus lhe dirão, você tem forças para gerenciá-las! E a sua experiência emocional, com isso, será mais rica, fazendo-o aproveitar melhor das funções protetoras que elas oferecem.
Artigo divulgado também no site do Clube Gazeta do Povo.
Essa reflexão não substitui a Psicoterapia.
Psicólogo Pascoal Zani
CRP 08/04471