Quando o ciúme faz sofrer
Você já sentiu ciúmes do seu namorado ou da sua esposa? Já deu aquela “olhadela básica” no celular dele ou dela? Ficou intrigado com as redes sociais ou então, no carro, esteve à espreita de algum flagra? E o “fantasma das ex—namoradas”, heim?
Quem tem ciúmes doentios sofre muito e pode por a perder um bom relacionamento afetivo! Todos podem sentir todas as emoções, claro, mas este texto visa dar um alerta básico a quem tem exageros na intensidade, a quem sente aquele ciúme mais “visceral”, sabe?
Se você está enciumado, pode até pode partir de uma situação real, mas conta pra si mesmo uma história muito trágica ou exagerada, de que está sendo preterido ou traído pelo seu amado. Dói, não é mesmo? E piora muito o relacionamento do casal, obviamente. Agora, quantas vezes seus devaneios se confirmaram? Já parou pra pensar em quantas delas seus pensamentos estavam absolutamente certos em relação à realidade? E em quantas oportunidades você colheu um dado real, mas distorceu tanto na sua mente até fazer surgir um ciúme totalmente infundado?
O ciúme provoca ou aumenta a raiva, a ansiedade e o medo, dentre outras emoções e sentimentos. Ele provavelmente tem suas raízes no receio de ser abandonado, na instabilidade emocional, no sentimento de inadequação ou na desconfiança. E traz consequências que possivelmente você conhece: talvez se torne possessivo, apegado ou controlador demais, sufocando a quem mais ama; ou o medo extremo de ser rejeitado pode fazer com que abandone antes; por vezes ainda, é possível que negue ou evite situações das quais desconfia.
De todas as formas, se você tiver deixado crescer muito o seu ciúme, pode ser que passe a tomar decisões e a agir em ritmo de desespero, justamente por ter acreditado em seus pensamentos como se fossem verdadeiros (olha o perigo!!).
E é claro que os seus pensamentos involuntários de ciúmes reforçam as crenças de que você não tem valor e de que não merece receber amor, diminuindo cada vez mais a autoestima. Eles estão presentes no remoer de histórias de estar sendo traído, preterido por outra pessoa ou abandonado. Como se sentir valorizado e amado cultivando ideias tão invalidantes (autoinvalidantes, não é)?
Tal qual pescador que procura o buraco na rede, num misto de medo e desejo, entristecendo-se ao encontrar, assim é o enciumado. Mas talvez o maior sofrimento venha da instabilidade e da hipervigilância (olha a ansiedade aí) por estar sempre às voltas com um pensamento de fatal ameaça ao sonho de viver a estabilidade do amor.
Ainda que nada dispense a psicoterapia, algumas dicas da Terapia Cognitiva-comportamental podem ajudar a administrar os ciúmes no seu dia-a-dia:
- Questione seus pensamentos; duvide muito, não acredite neles como verdade; eles vêm automaticamente, mas só vão permanecer se você os reforçar;
- Monitore seus gatilhos e se exponha gradualmente às situações que dão início aos seus ciúmes; comportamentos de verificação (aqueles do início do texto e outros) aliviam a ansiedade por um tempo, mas mantém o ciclo do ciúme porque reforçam o pensamento distorcido;
- Preste a atenção na sua raiva e na sua ansiedade: reflita com seu psicólogo para melhorar a sua regulação emocional; exercícios de relaxamento muscular e de respiração diafragmática podem ajudar a sofrer menos com os sintomas ansiosos;
- Treine a assertividade: o que não é falado aumenta a atividade mental, faz você nutrir mais pensamentos nocivos; crie um canal de comunicação com seu parceiro, para que possa expor e ouvir pensamentos e sentimentos, facilitando a administração de momentos de crise;
Obs.: esta reflexão não substitui a psicoterapia.
Psicólogo Pascoal Zani – CRP 08/04471
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