Comunicação Assertiva

“A arte de viver é simplesmente a arte de conviver…

simplesmente, disse eu?

Mas como é difícil!”

(Mário Quintana)

Já vi casais apaixonados romperem por pequenos conflitos ou por não saberem mais como conversar. Sei de bons profissionais que tiveram suas carreiras prejudicadas por conflitos com colegas, clientes ou chefias. Acompanhei estudantes que não conseguiam se concentrar nas provas e concursos por dificuldades nos relacionamentos. Vi em consultório pessoas que não conseguiam mais se e relacionar se isolavam cada vez mais em depressão.

O amor pode superar quase tudo. A competência e a qualidade nas atividades podem resolver muitas situações. Medicamentos podem ajudar. Mas ninguém pode abrir mão da poderosa arte de se relacionar para conquistar o seu bem-estar.

O sucesso, a qualidade de vida e o relacionamento interpessoal

A habilidade de cultivar bons relacionamentos está quase sempre presente nas histórias de sucesso e de bem-estar. Uma família com muito carinho, um grupo de grandes amigos, um bom ambiente de estudos ou de trabalho contam com modos de comunicação em que há abertura para falar e ouvir assertivamente, com empatia, transparência e respeito.

Mas, por vezes se pode adoecer. Uma pandemia, por exemplo, mudando todos os cenários, sem data para acabar, estressando a alguns por dificuldades financeiras, ou por excesso de convivência, luto de pessoas próximas e medo do coronavírus, talvez, deixe “os nervos à flor da pele”, colocando à prova as relações interpessoais.

Refletir, sozinho ou em conjunto, sobre os modos de se comunicar, é algo que vem a calhar nesse sentido. A Psicologia sugere diagnosticar o tipo de comunicação que está sendo utilizada na dinâmica de cada relação, sempre à luz do conceito de assertividade, considerado ideal.

O jeito de ser “Passivo”, “Agressivo” e “Passivo-agressivo”

Três modos de interagir podem causar grande desgaste na família, na roda de amigos, no trabalho, na escola, nas relações comerciais ou outras:

a) A comunicação Passiva acontece quando a pessoa

· Concorda com tudo, não se posiciona, não decide algo ou deixa de exercer sua autonomia dentro da relação; desrespeita seus próprios direitos

· não expressa seus desejos, emoções e necessidades; apenas pensa, sente, mas não diz; supõe que o outro entenda o que não falou

· cede em seu posicionamento por não tolerar conflitos ou tem dificuldade de iniciar um enfrentamento, mesmo quando necessário

· teme desagradar e talvez ser punida com a retirada do carinho, se inibe emocionalmente ou age de acordo com o que o outra pessoa pensa, sugere ou ordena

· não consegue dizer “não”, assumindo mais atividades do que suporta ou se prejudicando para atender um pedido de um amigo, chefe ou familiar

b) A comunicação Agressiva pode ser notada quando uma das partes

· briga verbal ou fisicamente; perde a razão com frequência; responde “sem pensar”, sem considerar consequências; desrespeita o direito das outras pessoas

· decide pelos outros, tenta controlar ou ameaça

· deprecia, ironiza, invalida, muitas vezes sem entender que sua fala está agredindo

· julga, culpa, condena e pune, diretamente

· diz “não” de modo seco, frio, sem empatia

· considera-se como “o certo”, por isso não consegue ver a “verdade do outro”

c) A comunicação Passivo-agressiva está acontecendo quando um ou mais membros do casal ou grupo

· não diz o que precisa e tempos depois discute por outra razão; pensa que outro deveria saber como se sente; por não falar no momento certo, rumina pensamentos, nutrindo e mantendo sentimentos de mágoa, irritação e vingança

· às vezes se cala, reprimindo sentimentos esse vitimizando; noutras explode, sendo impulsivo ou raivoso, agressivo

· usa a ironia e a sutileza para agredir; culpa e pune indiretamente

A Comunicação Assertiva

A Assertividade, por sua vez, é a habilidade social de expressar com empatia e firmeza seus pensamentos, direitos e emoções, de modo não-verbal e verbal, sem desrespeitar o direito dos outros. A comunicação Assertiva está acontecendo quando a pessoa

· fala com transparência, segurança e objetividade do que pensa e sente, sem ofender e nem se subjugar; faz críticas construtivas

· ouve com acolhimento, respeitando sentimentos e opiniões (contrárias ou não)

· diz “Sim” para oportunidades, quando conveniente

· diz “Não” para evitar sobrecarga de atividades ou para impor limites, quando é o caso

Como treinar a Assertividade

“Meu amigo, amar é um verbo.

Amor, a sensação, é um fruto de amar, o verbo.” (Stephen Covey)

Eis a boa notícia: se você identificou traços que não correspondem à assertividade, saiba que ela é uma habilidade social, e, então, pode ser treinada. Algumas dicas podem ajudar:

· identificar emoções e pensamentos

· conhecer-se, entender seus padrões de funcionamento

· priorizar-se e estabelecer suas prioridades

· gerenciar “sim” e “não” a partir dos seus valores e propósitos

· estabelecer parcerias e limites para os outros

· planejar rotinas para decidir se tem ou não condições de aceitar novas atividades

· escolher momento apropriado para falar, quando possível

· olhar nos olhos e falar sinceramente o que sente

Trilhar o caminho da Inteligência Emocional proposto por Daniel Goleman, auxilia muito na comunicação assertiva:

· autoconhecimento: reconhecer as emoções; conhecer forças e fraquezas

· Autogestão: reconhecer as emoções e verificar como as interpreta; formar hábito de procurar oportunidades em ameaças

· Consciência social: praticar a empatia

· Gestão de relacionamento: exercitar habilidades sociais

E ainda mais uma sugestão para desenvolvê-la: praticar os conceitos e o modelo mental proposto pela CNV – Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg

Padrões flexíveis de comunicação

Embora na maior parte do tempo use um determinado estilo de comunicação e até busque a assertividade, talvez alguém seja mais assertivo em dada situação, agressiva em outro e, noutra ainda, escolha se calar.

Ou, ainda, na dinâmica do relacionamento, pode ser que se estabeleçam padrões como: passivo-agressivo com passivo-agressivo; agressivo com passivo; assertivo com agressivo, etc.

A teoria na prática é outra?

A teoria e a prática tendem a ser iguais. Mas numa relação existem no mínimo duas pessoas. Uma delas pode querer ser assertiva enquanto a outra se mantém não-assertiva. Assertivamente se pode inclusive pontuar sobre a própria situação em curso. E, ao final, só se pode planejar a própria postura, manter a assertividade.

O contágio do humor

É muito difícil pensar que alguém tem relacionamentos saudáveis sem estar bem consigo mesmo, dado que o humor é contagiante. E o inverso também se mostrado verdadeiro, no sentido de que a aquisição de habilidades sociais, especialmente a assertividade, melhora o bem-estar individual.

Psicólogo Pascoal Zani CRP 08/04471

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