A inveja nas redes sociais

A inveja nas redes sociais

A regulação emocional na rede social

Você está navegando no Instagram e a imagem do post é de uma amiga feliz, em férias, na praia! O que você pensou a respeito? “Estou feliz por ela”, “quero ir lá nas minhas próximas férias”, “Nunca vou conseguir ser feliz como ela”, “a toda hora ela está me provocando”, “nem é tudo isso”?

Depende de muitos fatores, claro. Mas conforme tenha pensado você poderá ter sentido alegria, bem-estar, frustração, desânimo, raiva, inveja, desprezo, etc.

Treinando a regulação emocional você identificaria a situação, o seu pensamento a respeito, a emoção e o comportamento que teve. Talvez fizesse alguns ajustes para viver melhor suas emoções. Não é fácil, mas é o exercício nosso de cada dia e é necessário.

Por que há tanta inveja nas redes sociais?

Eu responderia que a inveja, outras emoções, pensamentos e comportamentos que estão no mundo virtual são a expressão do homem, que cria e usa a tecnologia à sua imagem e semelhança.

Cada rede social virtual é uma ferramenta. A inveja já existia e continuou existindo nela. Vem do homem, da cultura e dos relacionamentos humanos.

A inveja, emoção aprendida

            Iniciamos pela inveja, mas muitos pensamentos, emoções e sentimentos diferentes podem ir se juntando quando detalhamos o assunto. É comum que essa mesma reflexão possa abranger ciúme e necessidade de aprovação social em exagero, por exemplo.

  • O que a felicidade do outro provoca em você?
  • Como se sente quando se compara a alguém?
  • Quanto pesa ser ou não aprovado?
  • Como age em relação a postagens de ex-parceiros(as) afetivos?
  • O sucesso do outro o motiva ou desanima?
  • E a grama mais verde do vizinho, aquelas vidas perfeitas que aparecem nos grupos e nas telas?
  • E as lindas e sorridentes famílias dos famosos comerciais de margarina?
  • Você faz comparações assim?

            “As emoções secundárias são influenciadas pelo contexto social e cultural: são portanto aprendidas, e não inatas”. (Roberto Lent)

            A sociedade e a cultura, então, dão parâmetros. Podemos arriscar alguns deles: você precisa ter sucesso profissional, ter este peso e aquela altura, apresentar o melhor resultado, estar sempre feliz, ganhar “x” ou “y”, ser desta ou daquela religião, comprar isso ou aquilo, estar no namoro ou no casamento perfeito, tirar as melhores férias da empresa, torcer por este ou aquele time: “precisa de”, “tem que”. (Será mesmo?)

            São normas e regras socioculturais. Podem fazer você desejar ou achar necessário ter o que o outro tem. A inveja está neste berço, mas ela não dorme. Algumas reflexões podem ajudar você a lidar com ela:

  • Uma vez desejando algo, quais pensamentos lhe vem?
  • Você pensa em ter o que é do outro, sem medir consequências?
  • A postagem o leva a criticar o que deseja ou a querer privar o outro do que tem?
  • Você se desmotiva ao querer algo que não conseguirá tão facilmente?
  • Querer algo lhe inspira a imitar um comportamento ou a buscar um objeto, uma situação similar e fazer ações saudáveis para conseguir?

A provocação do desejo e o seu modo de reagir

Bem, talvez você não precise desejar tudo o que os outros tem, não é mesmo? Ou, desejando, reagindo positivamente ao estímulo, possa parar a fim de analisar o que de fato quer e planejar maneiras saudáveis e viáveis de conseguir. Portanto:

  • Cuide para não viver o desejo dos outros e esquecer o seu. É básico;
  • Faça escolhas, examine bem quais atividades, pessoas e objetos quer acompanhar. Reorganize sua timeline. Assim você poderá focar em amizades que realmente importam e em páginas que lhe ofereçam conteúdos e experiências úteis para sua atividade e sua qualidade de vida;
  • Eleja valores de Vida e objetivos de curto, médio e longo prazo. Isso facilitará suas decisões quanto a compras, quais amigos e páginas seguir e quais postagens devem merecer a sua atenção;

O comportamento digital e o social

No tempo em que as relações eram menos virtuais você já encontrava a inveja nos relacionamentos próximos: no parente que possuía um carro melhor, no amiguinho que tinha um brinquedo que você não tinha, no colega que conseguia um cargo melhor que o seu, etc. O que mudou foi a amplitude que as redes deram às experiências. Tudo é mais rápido, intenso e diverso. Sempre se pergunte: ameaça ou oportunidade? Pode ser um bom motivo para você treinar sua Inteligência Emocional. Assim vai aprimorar suas habilidades para melhor aproveitá-las e ter mais bem-estar, qualidade de vida.

            Em todo caso, nova pausa para pensar: não é a ferramenta, é o homem. Não são as redes sociais virtuais. Trazendo ao particular para que possa exercer algum controle, trata-se de como você pensa, sente e age em relação aos conteúdos.

A opção entre sentir inveja ou investir em autoestima

            “Não seja cruel consigo mesmo. Não se compare como se fosse um artigo de compra e venda. Comparar-se é horrível, e se tomar como referência os homens ou as mulheres top em qualquer área será duplamente injusto. Aqueles que se comparam com os melhores, os mais bem-sucedidos, os mais famosos, vivem amargurados pelo que ‘não são’ ou pelo que ‘lhes falta’.” (Walter Riso)

            Quem sabe um dia “ter ou provocar inveja” (envy) nas redes sociais se torne cringe (vergonha alheia). Isso aliviaria um pouco as consequências das comparações que provocam frustração, ansiedade, desânimo, apatia e depressão em quaisquer gerações, sejam Baby Boomers, X, Y (Millennials), Z (Gen Z) ou Alpha! O que você acha?

            Bem, até lá, busque aproveitar as oportunidades que as redes fornecem, e existem muitas. Nunca foi tão fácil conseguir uma informação como é hoje. Mas foque menos em se consumir em comparações e mais em absorver conteúdos que mantenham elevada a sua autoestima.

Sugestão de leitura: “Apaixone-se por si mesmo”, de Walter Riso.

Artigo publicado também no Blog “TOP 10 News

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Psicólogo Pascoal Zani

CRP 08/04471

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