Você consegue perdoar?
A raiva e a culpa
Qual é a sua reação quando interpreta que foi ofendido pelo que alguém fez?
Num primeiro momento talvez a raiva entre em cena, por exemplo, para que você busque soluções para restaurar a justiça. Na dose certa, ela faz agir com assertividade e buscar alternativas saudáveis para resolver conflitos.
Mas dependendo de como você pensa sobre algo desagradável, poderá ficar ruminando, nutrindo mágoas, ódios, desejos de vingança, culpa, medo, desânimo, tristeza, etc.
Lembre-se: condenado e carcereiro vivem na mesma prisão. Aliás, na analogia, se você ruminar muito ódio ou ressentimento, acaba vivendo no cárcere que preparou para seu condenado imaginário, não é mesmo?
A alimentação de pensamentos negativos desregula emocionalmente e traz consequências indesejáveis nos relacionamentos, na resolução dos desafios diários, na sua saúde, na produtividade e na conquista dos seus objetivos. Questione-se: qual pensamento quer que cresça em você?
O excesso de crítica e de punição
Colocar-se na obrigação de cumprir parâmetros inalcançáveis de desempenho pode levá-lo a se criticar e a se punir por não atingir o que deseja. Esse caminho leva à rigidez de pensamento, ao cultivo da visão negativa e da tensão constante.
O perfeccionismo pode fazer com que você se torne exageradamente crítico, depreciativo e punitivo também com as pessoas próximas, por não pensarem ou agirem como você julga correto.
O antídoto para os sentimentos negativos
O perdão é a decisão de se libertar dos sentimentos negativos que você alimentou sobre uma pessoa ou algum evento. Pode ser classificado em três níveis de processos mentais:
- Cognitivo: ele tende a diminuir as interpretações que bloqueiam a visão dos fatos como são e que impedem de entender o ponto de vista do outro. Flexibiliza o pensamento, faz admitir que outros posicionamentos que precisam ser considerados. Objetivamente, o perdão aproxima da realidade e possibilita a volta da racionalidade.
- Emocional: a plenitude do perdão é alcançada quando você substitui conteúdos negativos por emoções positivas, sentindo o coração livre e leve.
- Comportamental: você de fato perdoa quando deixa de agir direta ou indiretamente contra o quê ou quem lhe machucou. Ou, ainda quando abranda um pouco suas próprias regras, busca reaproximações ou consegue ver o ofensor de modo mais positivo.
O perdão abre novos ciclos, mais reais e produtivos, que você não vê enquanto insiste em se manter fechado na sua bolha de pensamentos rancorosos ou coitadistas. Ele neutraliza a alimentação das emoções negativas, abrindo um período de maior saúde mental e física.
Perdão é atitude. É agir para impedir que a experiência negativa continue dominando você. É entender que, tempos depois, é preciso “dar um basta” aos pensamentos que está repetindo para si mesmo, aprisionando-se cada vez mais a eles. É escolher e isso exige renúncia: manter-se no sofrimento por nutrir uma ideia fixa ou renunciar a ela para retomar seus caminhos e reassumir o protagonismo da sua vida, voltar a viver;
Perdoar pode ter a ver com o outro, sim, mas tem muito mais a ver com você. Faça-o por si mesmo: é você que se liberta de sua própria prisão, que se dá a chance de se sentir melhor.
Oferecer ou pedir perdão
Dá muito alívio quando você perdoa ou é perdoado, não é mesmo? Então, não se deixe levar “pelo que você pensa que o outro vai pensar”. Não caia na armadilha de acreditar que pedir perdão é ser fraco, admitir erros, passar vergonha ou perder uma discussão. Isso é engodo. Quando chega a vez do perdão, não é mais hora de discutir o certo e o errado. É só entender que esse sofrimento precisa parar e que você está a um passo de recuperar a sua paz.
Perdoar é dizer para si mesmo: “não sei como a pessoa com quem entrei em conflito vai reagir, mas vou pedir perdão e perdoar da mesma forma. Se ela não me acolher, isso faz parte do rancor dela, não tenho controle a respeito. Não irei preocupado com o que ela vai pensar, sentir ou agir. Ao falar, conquistarei a minha paz, me libertarei deste peso que me faz sofrer há tanto tempo. Tem muito “passado” bloqueando o meu “presente” e o meu “futuro”. Estava deixando de viver por estar preso a esses pensamentos negativos, mas agora vou olhar para frente e agir”.
A fórmula do perdão: autocompaixão, compaixão e empatia
A autocompaixão, a compaixão e a empatia são ingredientes básicos do perdão.
Você demonstra compaixão ou autocompaixão quando sente a dor e age ativamente para aliviá-la no outro ou em si. Ela requer tolerar graus ponderados de erros e imprevistos, fixar-se menos em posições absolutas, “escolher as suas brigas”, conter os ímpetos de viver apontando defeitos próprios ou alheios, de punir com boicotes velados ou com palavras depreciativas.
A empatia faz ouvir com o coração aberto, dar ao outro o justo direito de se defender, de expressar seu ponto de vista. Assim você passa a ter mais dados reais e também a visão do todo, podendo analisar e decidir mais assertivamente.
Antes de ser ofensor ou ofendido, todos são seres humanos e não deuses, ou seja, erram e são imperfeitos. Você e as demais pessoas podem perdoar e ser perdoadas, não cabe impor ou sofrer condenações eternas.
Como treinar a capacidade de perdoar
Esqueça o mito de que você “é assim mesmo e não consegue mudar”, ou “faz parte da minha personalidade”. É possível lidar melhor com as emoções ditas negativas desenvolvendo habilidades, treinando. Veja alguns itens que você pode praticar para ser mais capaz de perdoar:
- inteligência emocional
- identificação e adaptação de pensamentos distorcidos
- autocompaixão e a compaixão
- comunicação empática, assertiva e não violenta
- aceitação via ações norteadas por valores de vida
- Mindfulness
Elevando os padrões de comunicação e buscando a paz
Que tal surpreender? Quando alguém lhe oferecer sua pior versão, dê o que tiver de melhor, perdoe. O desequilíbrio alheio não justifica que você perca sua paz ao responder, no momento ou depois, no perdão! Encante, apresentando a sua Inteligência Emocional.
Psicólogo Pascoal Zani
CRP 08/04471